O Arauto

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quinta-feira, junho 29, 2006

Patrão da Casablanca não deixa crédito por mão alheias

A Casablanca, a maior promotora de espectáculos musicais de Angola e, já agora, do continente africano, continua, à sua (boa) maneira, a atrair as nossas atenções, os nossos olhares e a deixar-nos de queixo caído por onde quer passe com cantores angolanos. Tudo isso por "culpa" do dono, barão e senhor da Casablanca, Henriques Miguel (Riquinho) que com engenho e arte tem sabido levar e erguer bem alto nos quatro cantos do mundo o estandarte da música angolana e dos "sons barulhentos" produzidos em Angola. Por exemplo, Riquinho foi oportuno e juntou-se aos Palancas na Copa do Mundo com um enorme grupo de músicos e cantores angolanos que, por meio da música, durante 15 dias fizeram aos jogadores da nossa pequena-grande selecção e angolanos que há muito vivem na Alemanha rememorar a nossa terra. Mais uma vez, o patrão da Casablanca não deixou os seus créditos por mãos alheias e mostrou o quanto vale, bem como o que sabe fazer. É por isso que lá na terra, fruto da invenja e das más-línguas, muitos não gostam do arrojo e engenho deste jovem empresário cultural angolano. Aliás, é bom que Riquinho saiba que só se atiram pedras a mangueiras que dão frutos, ou seja, mangas.

Conheça a diferença entre o MPLA e uma masturbação

Soou a hora de, sem mais demora nem delongas, acabar com o suspense que consiste na procura da resposta relativa à existência ou não de uma diferença entre o MPLA e uma masturbação.
Confesso que, à semelhança dos amigos que comigo estiveram há dias na Biblioteca Municipal de Lisboa, ali para as bandas de Campo Grande, dei voltas à cabeça e não consegui descobrir diferença nenhuma. Mandei alguns e-mais para amigos espalhados por esta "cinzenta e atrasada Lisboa" a ver se me ajudavam a descobrir a diferença, mas em vão!
Não me restou outra alternativa se não ligar à pessoa que me tinha, a mim e aos outros amigos, desafiado a descobrir a diferença. Sabem o que foi que ele disse: "a diferença entre uma masturbação e o MPLA, é que os dois são movimentos de libertação. A primeira não é uma pessoal colectiva e muito menos contactável. A segunda é diferente: é uma pessoa colectiva e ao mesmo tempo contactável, através do seguinte e-mail: mplaaroubabué.comesozinho."

terça-feira, junho 27, 2006

Qual é a diferença entre o MPLA e uma masturbação?

Um dos mais criativos povos do Terceiro Mundo, a par dos brasileiros, os "zairenses" do continente americano, é sem dúvidas o angolano. O angolano tem sempre um sorriso nos lábios quando, em decorrência da vida que (não) leva, devia estar macambúzio. O angolano tem sempre uma piada em manga para proporcionar momentos de descontração.
E foi assim que para descontrair, há dias, um amigo, depois de muito perorarmos sobre Angola, na Biblioteca Municipal de Lisboa, entendeu contar uma piada para distender.
E a pidada terminava com uma pergunta que, por uma questão de decoro, respeito aos leitores, à ética e à deontologia, não me seduz repeti-la. Mas como este é um espaço de debate e de escalpelização das minhas ideias, eis que, por minha conta e risco, a repito e desafio os leitores a responde-la:"Qual é a diferença entre o MPLA e a masturbação?"
Confesso que passados mais de 15 dias, segundo apurei, nenhum dos amigos que esteve presente ao debate conseguiu respoder a pergunta. Ora estando eu curioso para saber qual a diferença existente entre o MPLA e uma masturbação, não me resta outra alternativa senão ligar para o meu amigo que vive lá para os lados de Mafra para me esclarecer.

sábado, junho 24, 2006

*O tango do maestro José Eduardo dos Santos

Os cidadãos angolanos atentos ao evoluir do cenário politico local estão já, com toda certeza, tontos com essas voltas que da o processo eleitoral.E olhem, caros leitores, que são grandes voltas mesmo, daquelas que prescrevem um ângulo de 360 graus em que numa semana se anuncia um avanço para, na semana seguinte, retornarmos ao ponto de partida, a estaca zero.E é aqui onde, na verdade, nos encontramos, no ponto de partida.
Há anos que são avançados horizontes temporais para que tenhamos, finalmente, as segundas eleições presidências e legislativas em Angola. O próprio presidente da República, que tem a incumbência de convocar as eleições, já não veio a publico por varias vezes para apresentar datas prováveis.
A verdade é que os cenários, os horizontes temporais, as datas prováveis foram todas ultrapassadas. Hoje, os cidadãos estão assim, sem saber quando terão de facto eleições, a espera que o Chefe de Estado, ou outro governante por si mandatado, os induza mais uma data virtual.Vive-se de facto uma era de cenários virtuais, o que soa, no fundo, como um gigantesco contraste ao lembrarmos de que por ocasião de 1992, quando havia verdadeira pressão política interna e externa, os angolanos conseguiram preparar e realizar as eleições em tempo recorde.
Falamos, é claro, de uma altura em que haviam muitos mais problemas que hoje: menos dinheiro, mais minas terrestres e, com certeza, menos estabilidade politica e militar.
No entanto, bastaram seis meses para que o processo fosse, enfim, concluído. Com alguns erros, é claro. Mas as eleições foram mesmo realizadas e os resultados estão ai, a historia, essa, testemunha.Fica assim difícil compreender que raio de mania de perfeccionista é essa que faz com que as eleições estejam a levar tanto tempo para serem preparadas. Mais tempo ainda do que seria necessário para polir um diamante bruto de seis milhões de quilates.
Desde 2000 que os cidadãos ouvem falar da vontade governamental de realizar eleições. Todavia, ao mesmo tempo em que essa intenção foi sendo manifestada foram apresentadas em paralelo toda a espécie de desculpas.
Dos textos mais credíveis aos mais esfarrapados, os angolanos foram se convencendo de que o seu governo, chefiando por quem é chefiado, se assume cada vez mais como um mentiroso compulsivo. Desenha cenários, cria expectativas junto da população mas, no fim, não consegue cumprir os prazos que ele próprio definiu. O pior é que não sabemos, enquanto potências eleitorais, se culpamos esse mesmo governo por incompetência ou se nos apegamos aos indícios da existência de uma implícita vontade de se ir adiando as coisas ao sabor da conveniência de um ser supremo deveras conhecido.
O próprio Presidente da República obriga-nos, assim, a dançar um verdadeiro tango de adiamentos: os cidadãos dão um passo em frente para, em seguida, recuarem dois passos sem que, pelo menos um único dia, o maestro José Eduardo dos Santos venha a público explicar as razões das falhas de coreografia ou, no que é pior, dessa musica desafinada ao som da qual somos todos obrigados a dançar. Que se avance já para o registo eleitoral, que se convoquem já as eleições. Já é pois hora de se deixar de enganar esse sofrido povo que, com certeza, merece mais respeito.

* Artigo da autoria do Jornalista Tandala Francisco, director do semanário angolano "A Capital".

sexta-feira, junho 23, 2006

Filhos e enteados na imprensa portuguesa

Sob o título «É hora de a Imprensa portuguesa começar a escrever de forma mais séria», Jorge Eurico escreveu nas suas crónicas aqui no Notícias Lusófonas, que “quase todos os órgãos de Comunicação Social portugueses desrespeitam os factores que concorrem para uma notícia”.
Diz este querido companheiro de muitas avenidas e de não menos córregos, que se nota “a ausência de um noticiário constante, actual, preciso, rigoroso e sério sobre Angola e outros países africanos falantes da língua portuguesa nas páginas dos matutinos portugueses”. Nota-se e de que maneira!
«O facto de quando logo pela manhã nos propomos a tomar primeira xícara de café do dia e abrimos o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, o Correio da Manhã, o 24 Horas e tantos outros e não encontramos notícias referentes a Angola, lembra o abandono e a distância maldoso e propositado de um pai em relação aos filhos», escreve Jorge Eurico numa tentativa de – apesar de crítica – justificar o injustificável.
«É hora de a Comunicação Social lusa começar a escrever de forma mais séria e competente sobre o País com quem Portugal mantém uma relação de amor e ódio… especial», assinala o meu amigo com o conhecimento de quem conhece os dois lados da barricada, acrescentando que “se assim não acontecer, continuaremos a ter manchete nos grandes jornais portugueses que (pasmem se quiserem!) afinal o Caminho-de-ferro de Benguela fica lá para as bandas da Luanda-Norte ou ainda que em Moçambique a segunda causa de mortalidade é a queda de cocos de coqueiros sobre as cabeças dos moçambicanos».
A este (des)propósito, um outro amigo e também companheiro de avenidas e córregos, o Mestre Eugénio Costa Almeida, dizia um dia destes que «a SIC (uma das televisões portuguesas) deve pensar que não há angolanos em Portugal, ao contrário de brasileiros que sabemos viverem muitos em Portugal». E porquê? Porque, diz, «só assim se explica que a SIC não transmita nenhum – NENHUM – jogo de Angola, excepto o primeiro, naturalmente porque jogava Portugal, e vá transmitir os jogos do Brasil-Austrália e Brasil-Japão. Enfim… continua a falta de respeito pelos angolanos!!!!»
Sendo tudo isto verdade, importa alertar que o problema não é só da Comunicação Social mas igualmente de todas as outras formas de Poder, sobretudo do político. Os partidos portugueses, por exemplo, estão-se nas tintas para os cidadãos lusófonos e para as suas organizações representativas como, por exemplo, a Casa de Angola em Lisboa. É pena. É. Desta forma, a Comunicação Social portuguesa (que é a que mais me interessa) está a fornecer aos cidadãos lusófonos a corda com que estes, mais cedo ou mais tarde, a vão enforcar. E já faltou mais.
Crónica do Jornalista Orlando Castro publicada inicialmente aqui

quinta-feira, junho 22, 2006

*Há quatro anos assassinaram o líder histórico da UNITA

O chão de Angola tremeu, de Norte a Sul, do Leste a Oeste, não por causa do frio provocado pelas orvalhadas das noites do Moxico, mas sob o peso do corpo morto de Jonas Savimbi. Houve quem pensasse que fosse haver um levantamento no Centro Sul do País.
Os estados português, israelita e norte-americano jogaram um papel importante e decisivo para que, com sete balas (há quem diga que foram mais), se colocasse ponto final à vida de um velho e grande guerrilheiro que vai certamente figurar nos anais da História de Angola, e não só, como tendo sido um estadista sem Estado: Jonas Malheiro Savimbi.
O primeiro, segundo consta, terá dado treino à matilha que os efectivos da Unidade Anti-Terror (UAT) de Angola usaram para farejar o rasto de Jonas Savimbi nas matas do Moxico. O segundo teve um papel importante no domínio das telecomunicações, ao passo que o terceiro deu o seu assentimento para que se aplicasse o golpe final.
A morte de Jonas Savimbi, de acordo com uma fonte ligada às Forças Armadas Angolanas (FAA), só foi possível com a colaboração de antigos colaboradores directos do líder da UNITA, bem como de alguns que o acompanharem até ao último dia. “Savimbi foi-nos entregue. O que o general Camalata Numa conta, que tinha ido pôr as pilhas ao Sol para ouvir o relato do jogo do Sporting, não é verdade”, esclareceu a fonte que se escusou a dar mais pormenores, mas que pensa um dia escrever um livro quando estiver às portas da sua reforma.
De facto, altos quadros da UNITA que estavam com Savimbi colaboraram no que pensavam que seria apenas a captura e não a morte. Apesar disso, ajudaram a que o seu líder fosse morto e, pelo sim e pelo não, até estavam a alguma distância quando as armas dispararam.
Os militares das FAA e agentes da UAT que participaram da operação “Kissonde” foram escolhidos a dedo para acautelar eventuais fugas de informação. Por isso, houve generais das FAA, que se supunham presumíveis informadores de Jonas Savimbi, que perderam o cabelo e correram o risco de sofrerem um ataque de nervos por não terem sido seleccionados para fazerem parte da operação que levou à capitulação da UNITA e do seu líder.
A História, essa ciência de que Jonas Malheiro Savimbi tanto avocava e prezava, encarregar-se-á um dia de esclarecer sem sofismas nem eufemismos todos os factos, até aqui inauditos, que levaram a que um número restrito de operacionais de UAT, acompanhado de cães treinados algures em Portugal, a ferir mortalmente, no dia 22 de Fevereiro de 2002, o fundador da UNITA nas matas do Lucusse (Moxico).
Jonas Savimbi, que Ronald Reagan (antigo presidente do EUA) considerou, nos idos da década de 80, um bestial “combatente da liberdade”, passou, nos anos 90, a terrorista besta por causa do interesse do Governo norte-americano pelo petróleo angolano, emocionalmente morreu muito antes de Fevereiro de 2002.
O começo do fim do velho guerrilheiro ficou marcado quando o Governo angolano decidiu pôr em prática um projecto elaborado por um tribuno à Assembleia Nacional pelo MPLA que visava aliciar importantes quadros políticos e militares da UNITA no interior e exterior do País, raptar os filhos de Jonas Savimbi que se encontravam a estudar em alguns países africanos (Togo e Costa do Marfim) e pô-los a falar contra o próprio pai.
A par das derrotas militares que levou à captura e perda de importantes cabos de guerra e de praças fortes como o Bailundo (Huambo), Andulo (Bié), a criação da UNITA Renovada, que tiveram como animadores principais Jorge Valentim, Eugénio Manuvakola e Demóstenes Chilingutila, este foi o plano que deixou Jonas Savimbi militarmente desesperado e politicamente atordoado.
Mesmo assim, não fora primeiro a traição de antigos colaboradores e, depois, a colaboração com o “inimigo” de alguns dos elementos do seu Estado-Maior, Savimbi teria escapado a mais uma das muitas tentativas para o liquidarem.
Savimbi acreditava nos seus soldados e, por isso, foi apanhado. Quando, no início de 2002, lhe foi dito que deveria abandonar a zona e que se necessário haveria forma de “alguém” o ir buscar, respondeu que não abandonaria Angola nem os seus soldados. Disse e cumpriu. Pena foi que nem todos os seus soldados tenham sido dignos do líder que tinham.
*Artigo dos Jornalistas Jorge Eurico e Manuel Gilberto publicado aqui no dia 22 de Fevereiro do presente ano.

quarta-feira, junho 21, 2006

Jornalista ou (ignorante) leitora de conteúdos?

«Meu caro, em complemento a este seu artigo sobre a Comunicação social portuguesa, sob o título "É hora de a Imprensa portuguesa começar a escrever de forma mais séria" deixe-me alertá-lo para o facto do mesmo estar "incompleto". Quando uma jornalista, ou leitora de extractos de conteúdos, de uma televisão portuguesa afirma haver cerca de 40 dialectos em Angola, e 3 (três) línguas nacionais (Kimbundo, Umbundo e Tchokwé) que em Luanda se fala kimbundo e ao Sul cuanhama e mais a norte, Benguela e Huambo, se fala umbundo, o que podemos pensar desta lusitana comunicação social?
Podia ter colocado isto nos comentários... mas, acho que devo falar-lhe directamente e sem intermediários. Devemos alertar para a impreparação que alguns jornalistas, e quero acreditar que o são mas que estão deficientemente preparados e apoiados - provavelmente se deve a falta de meios logísticos e monetários nos seus locais de emprego - porque não só descredibilizam a cooperação a que pertencem como transmitem dados incorrectos para quem os lê ou ouve. Não é de admirar que a Casa de Angola esteja a ponderar em tomar uma posição pública sobre factos como este.

Um grande kandando deste seu amigo, Eugénio Costa Almeida»

Quando o amor a Angola também se escreve

O jogo entre os Palancas e o Irão está a servir de pretexto para tudo e mais alguma coisa, sobretudo para que aqueles que, não só amam mas que, apesar do tempo e da distância, sentem, sempre sentiram, Angola.
Por isso, neste momento vale tudo (e mais alguma coisa) pelo facto de os Palancas estarem em campo. Ora de um amigo, que neste momento se encontra num "manicómio" (nem todos que por lá andam são "malucos") lá para as bandas do Porto, mais concretamente na Gonçalo Cristóvão, recebi a mensagem que segue:
Força Angola!
«Hoje Angola és tu,
sou eu, somos nós.
Hoje Angola é fé,
querer e vencer.
Hoje ser angolano é ser o melhor!
Força Angola!»
A graça deste amigo é...Orlando Castro

É hora de a Imprensa portuguesa começar a escrever de forma mais séria

O interesse público, o factor humano, a actualidade, a proximidade geográfica, a relação política e cultural entre povos e Estados são condições que, em qualquer órgão de Comunicação Social do mundo que se preze, concorrem para que um facto seja digno de ser noticiado onde haja jornais e jornalistas que respeitem e, acima de tudo, acatem e apliquem com rigor os seis elementos para que uma notícia seja digna de merecer esse título, notícia.

Um facto que por omissão ou deliberada ignorância de um redactor não responda aos seis elementos, designadamente o “quem”, “quê”, “quando”, “onde”, “como” e “porquê” pode ser tudo (e mais alguma coisa), mas não nunca uma notícia.

Pelo menos assim foi que aprendi de Manuel da Silva, o actual subdirector de informação da Televisão Pública de Angola (TPA), nas aulas da cadeira de “Teoria Jornalística”, ministradas há cerca de 17 anos no curso Médio de Jornalismo no Instituto Médio de Economia de Luanda, IMEL.

Aprendi estas técnicas e continuo a aprender cada vez mais porque, a cada 24 horas que transcorrem, confesso, concluo que pouco ou nada sei sobre esta nobre profissão e ao mesmo tempo sacerdócio, a de Jornalista, que abracei há cerca de 15 anos.

Por isso não me coíbo de aprender (até porque no exercício da modéstia e fazendo jus à educação que me deu a dona Maria Helena, a minha mãe) com o colaborador de luxo que o Notícias Lusófonas, e a direcção pode-se gabar disso, tem no exímio Jornalista angolano Orlando Castro, que qualquer jornal editado em Língua Portuguesa em qualquer parte do mundo gostaria de o ter entre o seu corpo redactorial.

Afora este a parte, apraz-me dizer que tenho constatado em alguns, mas quase todos os órgãos de Comunicação Social portugueses, um desrespeito total aos factores que concorrem para uma notícia.

A provar isso está a ausência de um noticiário constante, actual, preciso, rigoroso e sério sobre Angola e outros países africanos falantes da língua portuguesa nas páginas dos matutinos portugueses.

O facto de quando logo pela manhã nos propomos a tomar primeira xícara de café do dia e abrimos o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, o Correio da Manhã, o 24 Horas e tantos outros e não encontramos notícias referentes a Angola, lembra o abandono e a distância maldoso e propositado de um pai em relação aos filhos.

É hora de a Comunicação Social lusa começar a escrever de forma mais séria e competente sobre o País com quem Portugal mantém uma relação de amor e ódio… especial.

Se assim não acontecer, continuaremos a ter manchete nos grandes jornais portugueses que (pasmem se quiserem!) afinal o Caminho-de-ferro de Benguela fica lá para as bandas da Lunda-Norte ou ainda que em Moçambique a segunda causa de mortalidade é a queda de cocos de coqueiros sobre as cabeças dos moçambicanos.

Quer-se continuar nesta toada? Pessoalmente não acredito!
*Crónica publicada inicialmente aqui

Club-k continua sem explicar actos de censura

O Clube de Estudantes Angolanos no Exterior, Club-K, continua até hoje por explicar aos seus leitores, e não só, as razões que levaram um dos seus membros a retirar, quarta-feira, dia 14, do seu site a matéria com o título “Críticas crescentes atingem diplomata angolana nos EUA”, inicialmente publicada aqui no NL. A direcção do Club-K ficou de reunir sábado passado de forma alargada e seguidamente fazer um pronunciamento público sobre o assunto, coisa que ainda não aconteceu. Recorde-se que o representante do Clube dos Angolanos no Exterior em Washington e membro da Comissão Permanente do Club-K, Ronny Codo, foi quem de forma estranha e até agora inexplicável retirou do site da organização a que pertence a matéria com o título “Críticas crescentes atingem diplomata angolana nos EUA”, retomada do Notícias Lusófonas. Ronny Codo, estudante finalista do curso de informática na capital norte-americana, retirou, ao arrepio dos estatutos e outras regras inerentes à vida instituição, a matéria do site sem consultar o secretário para informação João Joaquim, o que, de acordo com as nossas fontes, indica que terá sido pressionado pela Embaixada angolana em Washington. O silêncio da direcção do Club-K em relação ao caso que se deu reforça e cristaliza a ideia que se tem veiculado segundo a qual que os sites do Clube dos Angolanos no Exterior e o Angonotócias poderão estar a trabalhar na sombra com alguns sectores do regime, nomeadamente o MPLA em relação ao primeiro e a Casa Militar da Presidência da República no que ao segundo diz respeito.
Notícias palmada do Notícias Lusófonas

Polícia tolera actos de intolerância política, desde que não seja com o MPLA

O delegado da UNITA em Portugal questiona, por sua conta e risco, em entrevista ao único jornal on-line do mundo virado para os países de expressão portuguesa e comunidades espalhadas pelos quatro cantos do globo (que têm este idioma como principal meio de comunicação), o Notícias Lusófonas, se a função dos agentes da Polícia Nacional é a de assistir calma e serenamente a actos de intolerância política e a destruição de estruturas físicas do Galo Negro no interior do País.
Anastácio Sicato, que confessa que a presença de Angola no Mudial de Futebol leva a esquecer por momentos a diferença indeológica que opõe o seu partido ao Menos Pão Luz e Água, fala não só da intolerância política mas também da "sorte fatal" do seu partido, que é a de governar um dia Angola.
É, em resumo, uma entrevista durante a qual Sicato "cacareja e bate asas" de tal sorte que levanta uma poeira tão grande e tão densa que se espalha no seio de toda angolanidade, por toda angolanitude e que, dentro de momentos, vale a pena ler aqui.

terça-feira, junho 20, 2006

Combate à pobreza é imperativo nacional, diz Graça Machel

Graça Machel, membro do Comité Central do partido no poder, reafirmou recentemente, em Maputo, que a vitória da Frelimo nos próximos pleitos eleitorais constitui um imperativo nacional, não apenas por este ser um partido histórico, mas porque é o único que responde as aspirações da sociedade moçambicana.
Falando no encontro de exortação aos quadros da organização, sobre o trabalho a ser desenvolvido no âmbito da preparação do IX Congresso, a realizar-se no próximo mês de Novembro, em Quelimane, Machel disse que o seu partido acredita na vitória porque tem um programa de governação claro. Começando por fazer uma conceitualização sobre o porquê da realização do congresso agora, ela disse que a preparação dos próximos desafios eleitorais está na origem deste encontro, no qual os membros vão reafirmar um pensamento comum e claro sobre as eleições. "Queremos ver o partido a pulsar ao mesmo ritmo e vermos o país a sentir a liderança deste mesmo partido", disse, acrescentando que em Quelimane, o partido pretende ajustar a máquina às exigências de hoje. A propósito, ela exortou aos quadros presentes a valorizarem o contacto directo com o povo, devendo explicar as linhas gerais do partido, os objectivos da realização do congresso este ano e os principais desafios do país. Salientou que o contacto cara-a-cara é importante e sempre será, tendo em conta que África, incluindo Moçambique ainda é uma sociedade de tradição oral. "Podíamos passar as nossas mensagens pela internet, panfletos, rádios e outros meios, mas não só pelos índices elevados de analfabetismo, o facto é que o contacto directo aproxima-nos ao eleitorado ou melhor, ao povo". Evocando as oitos teses ao congresso, Machel disse que elas foram seleccionadas com um critério claro, que obedeceu os princípios e valores que regem o funcionamento do partido. Das oito, destacou duas, nomeadamente a que aborda sobre a unidade nacional e a outra sobre as mudanças. Disse que a Frelimo soube construir uma verdadeira ponte de unidade, não apenas porque juntou indivíduos de diferentes províncias. De acordo com o que explicou, ultimamente tem havido uma tendência de deitar abaixo este esforço. "Se formos a verificar nos nossos sectores, incluindo no aparelho do Estado, vamos notar que está a ressurgir o regionalismo", tendo apelado para a necessidade de se combater energicamente tal tendência. Sobre as mudanças, reafirmou que esta questão constitui um imperativo nacional, porque só assim é que se pode vencer a pobreza absoluta. "A pobreza é uma tirania que escraviza as mentes, leva as pessoas a acreditarem que não têm mais alternativa para sair dela". Socorrendo-se nas palavras do Presidente da Republica, Armando Guebuza, segundo as quais "não devemos andar, mas temos que correr", Graça Machel disse que todos os governos provinciais devem cumprir em 100 porcento os planos de actividades programados para o quinquénio, o que exige uma entrega total de todos. Segundo disse, não é aceitável que um Governo provincial diga que não conseguiu cumprir o plano em 100 porcento, porque toda a máquina do aparelho do Estado existe para fazer cumprir os programas do partido no poder.

segunda-feira, junho 19, 2006

"O Processo de Transicção para o Multipartidarismo em Angola" em livro

Em Lisboa, em colaboração com a Fundação para a Ciência e Tecnologia e a RDP-África, tem a honra de convidar V. Exa. para o lançamento em Lisboa, na Fundação Cidade de Lisboa, ao Campo Grande 380, no próximo dia 22 de Junho pelas 18,00 horas, da obra “O Processo de Transição para o Multipartidarismo em Angola”, que foram coordenadores os Professores Justino Pinto de Andrade (da UCAN) e Nuno Vidal (da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra).Além destes citados coordenadores, participaram na elaboração desta obra as seguintes individualidades:Abel Chivukuvuku, Alberto Oliveira Pinto, Aline Afonso Pereira, Almerido Jaka Jamba, António Burity da Silva, Arvind Ganesan, Augusto Rogério Leitão, Benjamim Castelo, Bornito de Sousa, Carlos Feijó, Christine Messiant, Cristina Rodrigues, Cristina Salvador, Fernando Pacheco, Filomeno Vieira Lopes, Gerald Bender, Jean-Michel Mabeko-Tali, João Baptista Lukombo Nzatuzola, João Paulo Nganga, Jorge Eurico, José Leitão Pureza, José Manuel Imbamba, Lindo Bernardo Tito, Luís do Nascimento, Manuel Paulo, Michel Cahen, Mónica Rafael Simões, Patrick Chabal (que prefacia a obra), Douglas Wheeler, Paulo Jorge, Ruy Duarte de Carvalho, Vicente Pinto de Andrade.Alguns destes autores deverão estar presentes na apresentação da obra em Lisboa.
Contamos com a vossa presença e participação no debate que se vai seguir à apresentação desta obra.

* Retirado daqui

Ribeiro e Castro defende português como língua de trabalho permanente

O Presidente do CDS-PP José RIBEIRO E CASTRO retomou nas últimas semanas diversas iniciativas em que se tem empenhado no sentido de tornar o português língua de trabalho permanente da Assembleia Parlamentar Paritária ACP-UE, fórum que congrega parlamentares europeus e representantes dos parlamentos dos países de África, Caraíbas e Pacífico.

Para além do líder do CDS-PP, que tem denunciado junto dos grupos políticos, do Presidente e Secretário-Geral do Parlamento Europeu e da Co-Presidência e Co-Secretariado da Assembleia Parlamentar Paritária a flagrante injustiça da falta de meios de interpretação e de documentos traduzidos em português e os prejuízos causados quer aos parlamentares dos países lusófonos presentes, quer às respectivas sociedades civis, todos os Embaixadores dos PALOP junto das instituições europeias também já se exprimiram nesse sentido.

Importa agora agir no quadro do regimento da Assembleia Parlamentar Paritária de forma a assegurar que fica definitivamente estabelecida a obrigatoriedade da existência desses meios de interpretação e de toda a documentação.

Cabo-verdianos "facilitaram" plano para matar Amílcar Cabral

Afinal, quem mandou matar o líder histórico do PAIGC, Amílcar Cabral? A pergunta continua sem resposta, a avaliar pelo teor de um relatório divulgado, a semana passada, pelo Departamento de Estado norte-americano. O documento dos EUA vem apenas confirmar que o assassínio de Amílcar Cabral se deveu a profundas desavenças políticas entre cabo-verdianos e guineenses, ou, mais exactamente, entre "os mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente".
Segundo este relatório, a morte de Cabral foi o resultado de uma conspiração entre os altos responsáveis políticos cabo-verdianos e africanos do continente. Embora a cumplicidade portuguesa não esteja posta de parte.
Esta informação resulta de documentos oficiais tornados públicos recentemente em Washington. Este relatório inclui telegramas minutas de reuniões ao mais alto nível do Governo norte-americano, mas também propostas sobre políticas a seguir por Washington face à deterioração da situação político-militar na Guiné-Bissau e Moçambique.
De acordo com aquele documento, as «fricções de longa data» de carácter racial dentro da organização chefiada por Cabral bem como à «oposição esporádica dura» dos seus responsáveis políticos e militares «que se irritavam com os limites impostos às actividades político-militares na Guiné portuguesa e à contínua subordinação dos militares aos objectivos políticos», poderiam estar na origem do assassinato do mais alto responsável do PAIGC.
O documento agora publicado pelo Departamento Norte-americano dos Serviços de Informações e Investigação dá conta ainda que na altura a diplomacia americana estava a par de toda estratégia do PAIGC que levava à declaração da independência da Guiné-Bissau, nas zonas libertadas do território, que, de resto, veio a acontecer em Setembro de 1973.
Recorde-se que o líder do Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde, Amílcar Cabral, foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973 em Conakri e a 1 de Fevereiro do mesmo ano o Departamento de Estado Norte-americano emitira um relatório revelando que «a maior parte dos sinais indicam que o assassínio de Cabral foi resultado de um feudo entre mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente», chamando contudo a atenção para não excluir a cumplicidade Portuguesa.

Morte de Cabral não é nenhum mistério
Expresso das Ilhas quis perceber melhor, junto de pessoas que conheceram de perto o líder histórico do PAIGC e/ou que estudaram o pensamento de Cabral, sobre o fenómeno da sua morte. Deste modo, de acordo com Carlos Reis, actual assessor da Ministra da Defesa e combatente da liberdade da Pátria reagindo esta noticia da LUSA, recorda a sua intervenção aquando do lançamento do livro «Quem Mandou Matar Amílcar Cabral» do português José Pedro Castanheira.
Segundo Reis o jornalista terá chegado nessa obra, a mesma conclusão do relatório agora tornado público pelos Serviços de Informações e Investigação do Departamento de Estado Norte-americano.
Para o ex-combatente da liberdade da Pátria, que por sinal na altura ainda bastante jovem com alta responsabilidade nos meandros do PAIGC e que conhecia bem a filosofia político-militar de Cabral, esta informação que veio agora ao público não é notícia para ele. Admite, por outro lado, que para uma missão de alta segurança, como aquela de Conacry, e muito bem orquestrada, não é fácil de encontrar a prova material do crime. Ou seja, não está em condições de apontar nomes ou países que estiveram envolvidos na morte de Cabral, mas que de facto ouve quem liderou uma grande operação secreta que levou ao desaparecimento físico do líder histórico do PAIGC. Fala por exemplo, da célebre invasão ao Porto de Conacry onde há um grupo do contingente português que demarca do outro que ia libertar os prisioneiros portugueses na prisão da Montanha (estabelecimento prisional do PAIGC). Aquele grupo foi para casa de Amílcar Cabral com o objectivo, segundo Reis de bombardear a sua residência. «A mando de quem?», pergunta o combatente da liberdade da pátria para quem o processo sobre a morte de Cabral na sua perspectiva não é nenhum mistério, porque há muito que se sabe quem mandou matar Amílcar Cabral.
Instado a comentar sobre a parte do relatório onde diz que “a maior parte dos sinais indicam que o assassínio de Cabral foi o resultado de um feudo entre mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente”, diz não ter dúvidas de um encorajamento em termos de cumplicidade por parte de Portugal. Mas que os alegados autores materiais do crime terão agido por conta de um projecto de assalto ao poder (refere com certeza ao poder que Cabral detinha na altura), poderá também corresponder a verdade.
O ex-combatente da liberdade da Pátria confessa, a título de exemplo para ilustrar o comentário que lhe foi pedido, que em 1970 esteve em teatros de operação onde se tentou aniquilar Cabral através de um bombardeamento à casa dele.
Carlos Reis dá toda credibilidade ao relatório do Departamento de Estado Norte-americano, mas ainda assim, acha que o documento padece de alguns elementos importantes para perceber o fenómeno da morte de Cabral. Entende, por isso, que os Serviços de Informações e Investigação do Departamento de Estado Norte Americano recorreram apenas a elementos isolados para fazer a avaliação de um processo histórico que levou décadas.

O Relatório não traz nenhuma novidade
Quem também acha que a notícia não traz grandes novidades é o jornalista e politólogo Daniel dos Santos, investigador sobre o pensamento de Cabral. O professor de Ciência Política e Comunicação da Uni-Piaget põe de parte, em princípio, a tese do envolvimento português na morte de Cabral, embora não o afaste, de todo em todo, em razão dos diversos planos da PIDE para liquidar o líder independentista cabo-verdiano.
Em seu entender, o assassínio de Cabral resulta de um conluio entre a facção guineense do PAIGC, o general Spínola e Sékou Touré. Aliás é o próprio Spínola que admite no seu livro «O País Sem Rumo», que estava, na altura, em curso uma negociação com facção dos guineenses do PAIGC, à revelia dos cabo-verdianos, com vista a encontrar uma solução para o conflito na Guiné, que passava pela assumpção, por parte de Cabral, do cargo de secretário-geral da então província da Guiné.
“Amílcar Cabral pressentiu a sua morte. Em Março de 1972, tornou publico um plano destinado a destruir o PAIGC, cuja autoria atribuiu ao governador da Guiné, na altura António Spínola, e aos colonialistas, ambos convencidos de que a prisão ou a morte do dirigente principal significaria o fim do partido da luta pela independência da Guiné e Cabo Verde”, lê-se na página 332 da tese de mestrado em Ciência Política de Daniel dos Santos.
Uma outra figura que a tese de mestrado de Santos aponta como um dos principais suspeitos pela morte de Cabral é Sékou Touré. É que segundo aquele documento, Sékou Touré, no dia 20 de Janeiro de 1973, de manhã, já que o assassinato de Cabral foi à noite, mandou ao secretariado do PAIGC duas pessoas, o então embaixador guineense em Dacar e um outro responsável, procurar Amílcar para lhe comunicar que tomasse cuidado porque havia gente que o queria matar.

O autor levanta as seguintes questões:
1º - Quem informou ao Sékou Touré sobre a conspiração contra Cabral?
2º - Será que Touré sabia das negociações entre Spínola e os guineenses do PAIGC?
3º - Tendo o PAIGC tomado o conhecimento da conspiração porquê que não tomou as providencias cautelares que passavam por uma medida de segurança do seu líder máximo?
No entender de Daniel dos Santos, a morte de Cabral está intimamente ligada à sua incapacidade de dirimir os conflitos que se lhe opunham no seio do PAIGC. Ou seja, a dissidência entre cabo-verdianos, que detinham uma formação académica mais elevada e, que por isso, era lhes atribuídos as responsabilidades da luta politico-diplomática, e os guineenses cuja grande parte estava na luta armada.
Os cabo-verdianos, sendo embora uma minoria demográfica, constituíam uma maioria sociológica no seio do PAIGC, situação que lhes permitia deter e controlar, com assentimento de Cabral, a sede do poder naquele partido, em detrimento dos guineenses. Daniel dos Santos concluiu que a morte do fundador do PAIGC foi apenas um golpe de Estado, durante cuja execução, por guineenses, se registaram alguns percalços que deixaram em pânico Kani e os seus pares, que, sem delongas, o mataram.
O politólogo cabo-verdiano sustenta que alguns dirigentes do PAIGC, de entre os quais constam, também, cabo-verdianos, «facilitaram» o plano para liquidar Amílcar Cabral, cuja permanência na chefia do partido se mostrava insustentável, em virtude da dissidência entre os guineenses e os ilhéus de Cabo Verde

* Este artigo foi palmado daqui

Economista da Guiné-Bissau sobe a sub-secretário-geral de Kofi Annan

O economista guineense Carlos Lopes está a acumular, desde 01 de Junho, o cargo de Director Político do secretário-geral das Nações Unidas com o de sub-secretário-geral da ONU, indica hoje um comunicado da organização. Segundo o documento, a promoção, com efeitos a 01 deste mês, foi decidida sexta-feira pelo próprio Kofi Annan. Carlos Lopes, natural de Bissau, nascido a 07 de Março de 1960, fora nomeado em Setembro de 2005 director dos Assuntos Políticos, de manutenção de Paz e Humanitários do gabinete de Annan, sendo empossado dois meses depois, em Novembro. Até então, Carlos Lopes era o responsável máximo da ONU e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, onde se encontra a maior delegação da organização em todo o mundo. O economista guineense, com um gabinete no 38º andar na sede da ONU, em Nova Iorque, é mestre em Desenvolvimento e Planeamento Estratégico e está encarregado de elaborar um vasto e ambicioso plano de reformas nas Nações Unidas, sobretudo no quadro do próprio PNUD. Autor de mais de 20 publicações, professor em universidades e academias em Lisboa, Coimbra (Portugal), Zurique (Suíça), Uppsala (Suécia), São Paulo e Rio de Janeiro (Brasil), Carlos Lopes tem um vasto currículo nas várias agências das nações Unidas. Segundo o comunicado, ajudou a criar organizações não governamentais em várias partes do mundo e foi consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e Ciência (UNESCO), da Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (ASDI) e do Comité Económico para África da ONU. Em 1984, Carlos Lopes foi um dos fundadores do primeiro grupo de trabalho do Conselho Económico e Social da ONU (ECOSOG), com sede em Dacar, Senegal. Carlos Lopes foi convidado a integrar os quadros do PNUD em 1988, na altura como economista para a área do desenvolvimento, subindo rapidamente na hierarquia da organização. Foi Director Adjunto do Gabinete de Avaliação Estratégica e Planeamento antes de seguir para o Zimbabué como coordenador residente do PNUD, após o que foi convidado a assumir as operações no Brasil. Em Setembro de 2005, o economista guineense viu reconhecido o seu trabalho e foi convidado pelo próprio Kofi Annan para chefiar o Departamento dos Assuntos Políticos, de Manutenção de Paz e Humanitários da equipa executiva do secretário-geral da ONU. A Agência Lusa tentou contactar Carlos Lopes em Nova Iorque mas, até agora, todas as tentativas revelaram-se infrutíferas. Trata- se do primeiro cidadão guineense a ocupar um alto cargo na secretaria- geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.

Eduardo dos Santos recebeu Isaías Samakuva em audiência

Do gabinete do presidente da UNITA recebemos a nota de Imprensa que se segue e que dá conta da audiência que o presidente da República e do MPLA, José Eduardo dos Santos, concedeu a Isaías Samakuva. Ei-la na íntegra: "O Presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola UNITA, Isaías Samakuva, foi hoje recebido por sua Excelência o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Acompanharam o Presidente da UNITA nesta audiência, o Vice-Presidente, Ernesto Joaquim Mulato e o Presidente do Grupo Parlamentar, Alcides Sakala Simões.
O Presidente da UNITA tratou com sua Excelência o Presidente da República questões relevantes de interesse nacional, nomeadamente:
- As garantias de uma transição estável;
- O reforço da confiança entre as partes signatárias dos Acordos de Paz e o cumprimento das questões pendentes, assinados entre a UNITA e o Governo de Angola;
- A conclusão do processo de reinserção social e o pagamento das pensões de reforma aos ex-militares.
Foi reafirmada a vontade da UNITA em contribuir para a consolidação da estabilidade e do processo democrático em curso no país, com acções conducentes à execução de um processo eleitoral transparente.
Luanda, 19 de Junho de 2006"

domingo, junho 18, 2006

Jornalistas cabo-verdianos denunciam tentativa de intimidação

A Associação dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) anunciou, recentemente na Praia, que protestará junto da Ordem dos Advogados contra a “tentativa de intimidação” feita por dois membros seus contra uma equipa da televisão estatal que cobria em Mindelo, na ilha de São Vicente, um julgamento sobre narcotráfico. A alegada tentativa de intimidação foi denunciada pelo jornalista da delegação do Mindelo da Televisão de Cabo Verde (TCV), Rui Almeida Santos, e pelo repórter de imagem, Gabriel Delgado, que dizem terem sido “ameaçados” pelos advogados Eurico Monteiro e José Manuel Pinto Monteiro quando tentavam recolher imagens à saída do tribunal. Os dois profissionais da TCV acusam os advogados de terem ameaçado agir judicialmente contra eles devido à reportagem a ser emitida pela televisão pública cabo-verdiana sobre o fim de um dos julgamentos mais mediáticos realizados, nos últimos anos, no arquipélago e que culminou com a condenação de 10 dos 14 réus a penas que vão de três a 12 anos de prisão. “Perante a justificação de que estávamos a trabalhar e a exercer o nosso dever de informar, um dos envolvidos, José Manuel Pinto Monteiro, chegou ao ponto de ameaçar fisicamente o operador de imagem caso o filmasse”, lê-se numa nota publicada pelos jornalistas. Gabriel Delgado anunciou que vai intentar uma queixa-crime contra o advogado José Pinto Monteiro junto Procuradoria da República por ameaça a sua integridade física. Por seu lado, a AJOC repudiou “qualquer tipo de obstáculo à captação de imagens em espaços públicos no exercício da profissão” e solidarizou-se “de forma incondicional” com os jornalistas. O presidente da AJOC, Paulo Lima, anunciou igualmente o apoio da organização às iniciativas que os jornalistas poderão empreender em relação a este caso, instando os profissionais da comunicação social de Cabo Verde a “continuarem os seus esforços de informar os cidadãos”. “Estamos em crer que os cidadãos terão sabido ajuizar da pertinência da denúncia feita publicamente na TCV e é nosso entendimento que tais práticas não devem, nem podem fazer escola no nosso país, a bem das relações que devem existir entre as classes profissionais”, conclui Paulo Lima. A AJOC exorta igualmente a Ordem dos Advogados a tomar providências no sentido de evitar que incidentes do género voltem a repetir-se.

Justiça foi e continua a ser palavra vã em Cabo Verde

Se os tribunais são um dos pilares do desenvolvimento e do grau de democraticidade de um Estado ou de uma nação, então falar-se do enquadramento de Cabo-Verde no contexto dos países de progresso médio é quase o mesmo que discutir o sexo dos anjos. Ou seja, este pilar na terra do poeta e prosador Eugénio Tavares não tem a força nem a credibilidade que é desejável. Se as instituições não funcionam corre-se o risco de os cabo-verdianos entenderem que devem fazer justiça pelas suas mãos.

Estranha-se, por tudo isto, que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) ainda não tenha chamado o presidente do PAICV e chefe do Governo cabo-verdiano, José Maria Neves , à responsabilidade para provar a afirmação por si proferida, dia 22 de Fevereiro do ano em curso, aquando das últimas eleições legislativa realizadas no arquipélago, segundo as quais o MpD, PSD e a UCID, no interior de Santiago, tinham comprado votos com o dinheiro proveniente do crime organizado e do tráfico de droga.

José Maria Neves fez a referida afirmação à saída de uma assembleia de voto que teve como palco a Escola Técnica, situada na Achada Santo António, onde havia acabado de exercer o seu direito de voto.

O Primeiro-Ministro cabo-verdiano parece dar razão ao (mau) principio do "quero, mando e posso", parecendo (pelo menos isso) que o STJ está sujeito às orientações do PAICV à semelhança do tempo do partido único.

A inércia do STJ em relação a este episódio parece ser (mais uma) prova provada de que Cabo-Verde ainda está longe de atingir os padrões normais dos países de desenvolvimento médio. E se assim é, não vai lá! Porque o facto de o STJ ainda não ter chamado (e será que o vai fazer?) o chefe do Executivo cabo-verdiano mostra que as 10 ilhas situadas no Atlântico Médio, contrariamente ao que se vem propalando a "sotavento e a barlavento", estão impreparadas para deixarem de ser referidas como sendo um País do terceiro mundo e enquadrá-las no contexto de Estado de desenvolvimento médio.

O facto de o presidente do PAICV parecer estar impune (mesmo depois de o acórdão n.º 05/06 ter sido peremptório ao afirmar que as afirmações de José Maria Neves configuram propaganda política e como tal merecedora de censura no plano jurídico sancionatório) dá corpo à teoria do sociólogo Maurice Duverger segundo a qual, quando se deixa de acreditar nos tribunais, o último recurso são as armas. Será isso que se quer em Cabo-Verde, um País cujos povos e solos nunca sentiram nem nunca viveram guerra alguma?

O facto de o homem apontado como sendo o próximo sucessor de Pedro Pires à testa do Estado cabo-verdiano não ter sido chamado pelo STJ mostra que imunidade nas ilhas da morabeza também é, à semelhança dos demais Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, PALOP, sinónimo de impunidade.

Artigo retirado do Notícias Lusófonas

sábado, junho 17, 2006

O que é nacional (nem sempre) é bom

Se tudo depender da bílis e da cisma da "fina-flor" pensante daqueles poucos, mas poucos mesmo, que têm privilegiada, regular e continuamente Mais Pão Água e Luz (por pensarem que são mais angolanos que os demais), o Direito à Informação em Angola, caucionado pela Lei Constitucional vigente no País, ainda terá um longo e sinuoso caminho a percorrer que passa por uma encosta política íngreme e perigosa quanto baste.
Tudo indica, pelo que tem sido dado a ver, que o Direito à Informação vai trilhar este caminho até o dia (quando?) em que o conjunto de ministros (a que dão o nome de Governo) ou os deputados à Assembleia Nacional (cuja legitimidade há muito expirou) acordar bem disposto e pensar que aos cidadãos que vivem no Leste do País tem sido denegado este direito e que nos tempos que correm a informação é necessária tal como pão para o estômago.
Denegar de forma deliberada e capciosa informação aos angolanos do Cunene a Cabinda e do Luau ao Lobito é, não tem outra designação, crime. É um atropelo, um desrespeito total ao estatuto jurídico-político do País e ao angolanos a quem no próximo ano vão, de forma deseperada, piscar o olho para obter o seu voto.
Só assim se compreende (bem-vinda seja a Internet) que nos aviões da Taag, companhia de bandeira angolana, não se encontre, à excepção do Jornal de Angola, publicações como o Semanário Angolense, Agora, Angolense, Folha 8, Cruzeiro do Sul e outros.
Porém, em contrapartida e para consolo do nosso desconsolo, encontramos o "Expresso", o "Diário de Notícias", "Jornal de Notícias", "A Bola", "Record", etc., etc.
E sabem porquê? Porque o que é nacional continua a não ser bom, pelo menos para o establishment e os seus protagonistas.

sexta-feira, junho 16, 2006

A humilhação de Pedro Pires atingiu toda a Lusofonia

O antigo primeiro-ministro de Cabo-Verde e candidato às últimas eleições presidenciais, Carlos Veiga, disse, em entrevista ao Notícias Lusófonas, que se sentiu vexado quando aqui há uns tempos o presidente do seu país, Pedro Pires, foi revistado de forma humilhante no aeroporto de Lisboa por funcionários dos Serviços de Estrangeiros e Fronteira (SEF), que era suposto saberem que estavam diante de um Chefe de Estado africano. A revista a que o presidente em exercício de Cabo-Verde foi submetido pelos homens do SEF representa uma atitude de feitio pouco sociável e um ultraje grosseiro à memória de Amílcar Cabral, ao povo, à bandeira, à morna, à coladera, à mazurca e à valsa cabo-verdianas e à Lusofonia em geral por parte do Governo português. Contudo, convém dar um desconto a esse abuso puro e duro porque suponho que os agentes do SEF para além de não conhecerem o Presidente de um país africano, se calhar pensam (como a maioria pensa erradamente) que foram os portugueses que descobriram as ilhas de Cabo-Verde, quando na verdade foram os chineses que as descobriram e nelas desembarcaram em 1405. Não foram os cabo-verdianos, os angolanos, os moçambicanos, os guineenses ou os são-tomenses que desembarcaram em Portugal, mas sim Portugal que desembarcou em África. Seria bom que isto ficasse claro! A culpa, porém, não é dos zelosos funcionários do SEF, mas sim dos ministros da Administração Interna do Estado e do titular dos Negócios Estrangeiros, António Costa e Freitas do Amaral. Os agentes do SEF que assim agiram se calhar não conhecem Paulino Vieira, Ildo Lobo, Dani Silva e Manuel Lopes. Nunca ouviram falar do encanto de Cabo-Verde, estas ilhas perdidas no mar, esquecidas num canto do mundo que as ondas embalam, maltratam e abraçam (como escreveu um dia o poeta Jorge Barbosa). Nunca ouviram o chorar nostálgico do cavaquinho. Nunca provaram o grogue nem nunca sentiram no ouvido a rouquidão da voz do artista que de guitarra na mão canta a olhar para o mar como se a espera estivesse do amor que um dia abalou na esperança de voltar um dia a aportar no mesmo porto que se despediu dos seus. Os chefes de Estados dos Países Africanos de Língua Oficial Portugusa (PALOP) não deviam deixar passar a atitude dos agentes do SEF em relação a Pedro Pires em branco sob pena de caucionarem situações idênticas no futuro. Os governos dos PALOP deviam exigir de Freitas do Amaral um pedido de desculpas formal aos cidadãos das antigas colónias de Portugal. Se assim foi com Pedro Pires (Cabo-Verde), amanhã poderá ser com Fradique de Menezes (São-Tomé e Príncipe), Armando Guebuza (Moçambique), João Bernando “Nino” Vieira (Guiné-Bissau) e José Eduardo dos Santos (Angola). Mas garanto, por minha conta e risco e à pala da minha condição de cidadão angolano, que se isso tivesse acontecido com o presidente do meu País tudo teria feito para concitar as autoridades no sentido revistarem um dirigente deste jardim a beira mar plantado (onde quando se quer esticar os braços um vai dar ao mar e outro a Espanha) quando aterrasse no aeroporto internacional 4 de Fevereiro. E assim seria quer o dirigente se chamasse José Sócrates ou ainda Aníbal Cavaco Silva.

Ronny Codo (do Club-k nos EUA) terá sido pressionado pela Embaixada

O representante do Clube dos Angolanos no Exterior em Washington e membro da Comissão Permanente do Club-K, Ronny Codo, foi quem de forma estranha e até agora inexplicável retirou, quarta-feira, dia 14, do site da organização a que pertence a matéria com o título “Críticas crescentes atingem diplomata angolana nos EUA”, retomada do Notícias Lusófonas. Ronny Codo, estudante finalista do curso de informática na capital norte-americana, retirou, ao arrepio dos estatutos e outras regras inerentes à vida instituição, a matéria do site sem consultar o secretário para informação João Joaquim, o que, de acordo com as nossas fontes, indica que terá sido pressionado pela Embaixada angolana em Washington.
A direcção do Club-K poderá, segundo apurámos, reunir a partir de amanhã para abordar a questão em causa, bem como o teor do comunicado feito a propósito do facto de ter retirado a matéria sobre a forma como Josefina Pitra Diakité, representante diplomática do Estado angolano nos EUA, gere a embaixada e se relaciona com os funcionários da mesma.
Entretanto, a assessora do secretário-geral do Club-K reagiu à crónica de Orlado Castro, colaborador do Notícias Lusófonas, com o título “Club-K ou gato escondido com o rabo de fora?” que faz alusão ao comunicado emitido recentemente para esclarecer (?) a retirada da matéria sobre a embaixadora de Angola nos EUA.
Edna Van-Dunem disse que não existe nenhuma relação entre o Club-K e o MPLA e que o mesmo é citado no comunicado por alguns estudantes estarem a ser acusados em determinados países de estarem ao serviço do partido no poder em Angola.

De Cabo Verde chega (mais) um mau exemplo

O exemplo mais acabado de intolerância política entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), contrariamente ao que se pensa e longe do que se poderia imaginar, vem (adivinhem e, se quiserem, pasmem depois!) de Cabo-Verde, a nação mais crioula do mundo.
A diplomacia cultural (o som nostálgico das mornas que os cantores arrancam ao dedilhar a guitarra em noite de paródia e lua cheia) mostra, de forma capciosa, astuta e sobranceira, à União Europeia (UE), à África e ao resto do mundo a face mais conhecida e sem fealdade que se conhece de Cabo Verde, mas esconde (parece mentira, mas é verdade) o rosto da intolerância política que se vive neste país situado no Atlântico Médio.
É claro que, para alguns, revelar isso é como ser forçado a abrir a goela para engolir o trago forte e amargo daquilo que efectivamente acontece diariamente debaixo do Sol político cabo-verdiano.
Quem por exemplo tem o desplante ou a ingenuidade de exibir o seu cartão de militante do MpD (ou outro que não o PAICV) numa repartição pública corre o risco de ficar sem emprego ou ainda ser despromovido.
O grau de intolerância do PAICV em relação às outras cores políticas é tão grande e ao mesmo tempo sem tamanho que correu com quase todos os funcionários (jardineiros, copeiros, motoristas, incluindo lavadeiras) que ao tempo do MpD serviram o Palácio da Várzea.
Quando, na cidade da Praia, se recorre ao hospital Agostinho Neto e se sabe que o paciente não é do PAICV obrigam-no (a ele e aos seus acompanhantes, é claro!) a conjugar o verbo esperar no presente do indicativo, independentemente do estado clínico.
Quem neste momento goza de todos (e mais alguns) privilégios nas 10 ilhas que compõem Cabo-Verde são aqueles que, por razões de sobrevivência e, diga-se, oportunismo político, social e económico, militam no partido fundado por Amílcar Cabral.
O grau de intolerância, uma realidade bem camuflada para a União Europeia para África e para o mundo, é tão grande e medonha que aos “tambarinos” (PAICV) e aos “ventoinhas” (MpD) só falta andarem à galheta nas ruas, becos, rotundas e vielas das cidades das ilhas de Cabo-Verde.
É uma pena que não se olhe para Cabo-Verde para lá das mornas…!

Crónica inicialmente publicada no Notícias Lusófonas

Club-k ou o gato escondido com o rabo de fora?

O Notícias Lusófonas publicou, em manchete, um artigo sobre uma diplomata angolana nos EUA. Pelo que me é dado ver nos sites ligados a temáticas angolanas, o artigo provocou alguns estragos de monta. Só por isso estão de parabéns o NL e o autor, o meu amigo Jorge Eurico. O Jornalismo é isso mesmo.
Como acontece muitas vezes, o Clube dos Angolanos no Exterior, Club-k, resolveu também publicar o artigo em questão mas, pouco tempo depois, retirou-o. A explicação que resolveu dar mostrou que é pior a emenda que o soneto.
Sem mais nem porquê, o site do Club-k, estampou um comunicado em que pretende a despropósito explicar o inexplicável. Vejamos: «A direcção do Club-k.net não foi pressionada pelas autoridades governamentais angolanas ou pelo partido do MPLA para retirar a notícia na íntegra».
Alguém disse que o direito, legítimo, de retirar um artigo se ficou a dever a pressões do Governo de Luanda e ou do MPLA?
Acredito que muitos, onde me incluo, tenham pensado isso. Tal como acredito que muitos, onde não me incluo, tenham pensado que o artigo fora publicado por pressões da UNITA. Mas daí a o Club-k ter tido a necessidade de, sem mais nem porquê, fazer um comunicado a defender-se de uma acusação que ninguém tinha formulado de forma expressa, não lembraria ao Diabo... se não houvesse alguma verdade.
O Club-k, que tem tido uma postura correcta de genericamente louvável, resolveu agora esconder o gato de uma forma tão primária que, sobretudo perante os angolanos, deixou o rabo do animal muito bem visível. Aliás, ao acrescentar que «o Club-k. net é um órgão independente e que não tem parcerias com as duas instituições acima mencionadas para censurar ou seleccionar os artigos a serem publicados», mostra – mesmo que involuntariamente – que onde há fumo há fogo.
«Parcerias para censurar ou seleccionar artigos»? Valha-nos Deus. O Club-k, na minha opinião, espalhou-se completamente. O comunicado que publicou mostra a todos apenas uma coisa: Houve de facto pressões para retirar o artigo. Se quem não deve não teme, não havia razões para justificar fosse o que fosse.
Ao assumir as dores do Governo de Luanda e do MPLA, o Club-k mostrou à sociedade que, afinal, em matéria de democracia, de liberdade, em Angola ainda é mais a parra do que a uva.

Orlando Castro, colunista do Notícias Lusófonas

quinta-feira, junho 15, 2006

Uma morte que pôs a nu actual Poder

O termo da existência de Jonas Savimbi, permitam-me ser politicamente incorrecto, (porque a História assim exige e as mais recentes evidências quotidianas dos factos assim aconselham), foi um mal que veio para bem.
Um mal (claro que não se deseja a morte de ninguém nem a ninguém!) que veio para bem na medida em que deixou a nu uma manifesta e inapta capacidade para lidar com valores como a democracia, tolerância política, liberdade e cidadania.
O desaparecimento do líder e fundador da UNITA foi um mal que veio para bem porque mostrou que quem governa está impreparado para dirigir uma Angola sem guerra.
A morte do velho guerrilheiro foi um mal que veio para bem porque deixou o Menos Pão Luz e Água numa posição bastante incomoda em que dá a entender claramente que o Governo está de tanga (e para um Governo de tanga, uma tanga de Governo!).
A aniquilação de Jonas Savimbi, o homem que durante muitos anos deu a volta politicamente ao mundo inteiro, mostrou que o Menos Pão Luz e Água não tem nem nunca teve uma agenda social para o período do pós-guerra.
Passados quase cinco anos desde que a máquina de guerra da UNITA foi capitulada e o seu líder morto, ainda não é possível dizer alto e bom som “olhe isto aqui está muito bom; isto aqui está bom demais”.
As matreirices políticas de Jonas Savimbi e os actos de sabotagem (de todo o género) por parte das forças militares da UNITA deixaram de ser um pretexto para que não se dê, pelo menos isso, água, pão, habitação, educação e saúde aos cidadãos eleitores e contribuintes angolanos. Até quando?

Crónica publicada inicialmente no Notícias Lusófonas

Medidas agro-ambientais em Portugal são preocupações do CDS

Em resposta enviada agora a uma pergunta escrita apresentada pelo líder do CDS/Partido Popular, o eurodeputado José Ribeiro e Castro, em que este apresentou o conflito aberto entre o ministro da Agricultura, Jaime Silva, e milhares de agricultores portugueses a respeito do não-pagamento das medidas agro-ambientais, a Comissária europeia para a Agricultura, Mariann Fischer Boel, escreve taxativamente: “A Comissão compreende a preocupação do Senhor Deputado, nomeadamente porque a medidas tão importantes como o são as agro-ambientais é dada uma alta prioridade na política de desenvolvimento rural da Comissão e porque o conjunto da sociedade espera uma resposta positiva de todos os agricultores dispostos a adoptar novos modos de produção, mais respeitadores do ambiente, ou a dar continuidade a formas de cultivo tradicionais e benéficas.”

Prosseguindo na mesma linha, acrescenta a Comissária: “Os programas aprovados pela Comissão criam o enquadramento legislativo e prevêem os recursos orçamentais comunitários necessários para a acção concreta no terreno. Obviamente, todos ansiamos por que os resultados destes programas sejam os melhores possíveis, sendo sempre de lamentar que algumas medidas não possam ser financiadas num Estado-Membro, impedindo a realização plena dos programas específicos. Tal constitui uma preocupação especial pelo facto de as medidas agro-ambientais serem as únicas obrigatórias para os Estados-Membros no domínio do desenvolvimento rural.”

Contudo, a Comissão declina qualquer responsabilidade no não-pagamento, ou possibilidade de intervenção directa, imputando ao Governo português a origem dos problemas: “… é de referir que os critérios de prioridade para atribuição de subsídios de qualquer medida de desenvolvimento rural são um dos elementos da responsabilidade dos Estados-Membros, e não da Comissão. Os pagamentos a agricultores são feitos pelas autoridades nacionais na sua função de execução das medidas de desenvolvimento rural, no respeito da legislação europeia e nacional. A Comissão não pode decidir se um Estado-Membro deve pagar uma medida, submedida ou projecto específico no quadro definido pelo programa. Este aspecto está claramente fora das competências da Comissão.”

A Comissão refere ainda ter pleno conhecimento dos problemas em Portugal, que decorrem de problemas orçamentais e de uma alteração de políticas do actual Governo português.

Em primeiro lugar, a Comissária refere que: “A Comissão informa o Senhor Deputado de que tem conhecimento de que Portugal não pagará os novos pedidos de ajuda agro-ambiental apresentados pelos agricultores em 2005. A Comissão está também a acompanhar de perto a execução do orçamento do Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA), secção Garantia, para o desenvolvimento rural em Portugal.”

E mais adiante acrescenta: “a Comissão foi informada de que, por um lado, Portugal enfrenta dificuldades orçamentais específicas para satisfazer a procura de novos contratos agro-ambientais e, por outro lado, o contexto operacional foi alterado pela introdução dos pagamentos dissociados e da condicionalidade no primeiro pilar da política agrícola comum”.

A terminar, Mariann Fischer Boel assegura que continuará a seguir este dossier com a maior atenção, quer no imediato, quer no médio e longo prazo: “A estratégia nacional de desenvolvimento rural e o novo projecto de programa de desenvolvimento rural serão discutidos pela Comissão com as autoridades portuguesas nos próximos meses, assim que Portugal apresente estes documentos, e a Comissão terá a preocupação de que seja previsto um programa agro-ambiental de grande qualidade, com financiamento suficiente para os próximos sete anos”.

Matem-se os jornalistas a bem da democracia

«Se eu fosse supersticioso diria que ser jornalista em Bissau começa a ser dramático e uma actividade de muito risco», afirma o mestre da Lusofonia Eugénio Costa Almeida numa das suas recentes crónicas a propósito da morte do Jornalista Carlos Alberto Casimiro.
A este propósito, recordo o que se passou na Guiné-Bissau em Outubro de 2001 quando, a bem (é claro!) da democracia, o Procurador-Geral da República guineense, Caetano Intchamá, ordenou o encerramento dos dois únicos jornais privados que se publicavam no país.
No seu despacho, Caetano Intchamá ordenou o encerramento dos jornais "Diário de Bissau" e "Gazeta de Notícias", alegando "prática continuada de actividade delituosa potencialmente geradora de danos irreparáveis, pois atenta contra a independência da Nação, a integridade do território, a unidade nacional, as instituições da República e os princípios e objectivos e integridade moral dos cidadãos". Ou seja. A liberdade de Imprensa na Guiné-Bissau (como em Angola ou em Portugal) só poderá existir se for para dizer «sim» a tudo o que o Governa entenda fazer.
Sem citar exemplos concretos dessa alegada conduta (o que é, reconheça-se, uma regra de ouro das mais acéfalas ditaduras, mesmo quando eleitas), o despacho acrescentava que "o exercício delituoso dos referidos jornais atentava gravemente contra o Estado de Direito Democrático que se pretende edificar".
Ora nem mais! A bem do direito democrático... encerram-se os jornais que, por serem privados e por criticarem o que devem criticar, eram uma boa prova da democracia. A conduta deste jornais, segundo o PGR, "promovia campanha contra o esforço pela paz, violava o segredo de Estado, visava alterar o Estado de Direito e punha em causa o processo da Luta de Libertação Nacional (contra a colonização portuguesa, até 1974), os valores do 7 de Junho de 1998 (data do início do golpe de Estado e guerra civil que levaram, 11 meses depois, ao termo do regime do presidente João Bernardo Vieira «Nino») e a mudança transparente e justa verificada nas últimas eleições presidenciais e legislativas de 1999/2000", que deram a vitória ao presidente Kumba Ialá.
Nem Nino Vieira, um herói que virou terrorista, um democrata que virou ditador, um terrorista que virou herói, um ditador que virou democrata, diria e faria melhor. Em reacção ao despacho de então, Humberto Gomes, do "Gazeta de Notícias", disse na altura que "num país em que o Presidente da República se substitui à Constituição não é de admirar que o PGR se substitua aos tribunais". Segundo o jornalista, só os tribunais estariam em condições de mandar encerrar um órgão de comunicação social.
Recorde-se que Caetano Intchamá, magistrado de formação e primo do presidente Kumba Ialá, foi primeiro-ministro da Guiné- Bissau no primeiro Governo saído das eleições de Novembro de 2000, mantendo-se no cargo durante quase um ano até ser exonerado pelo chefe de Estado, tendo então sido alegados motivos de saúde.
Recorde-se que quando ainda era chefe do Governo, mandou deter durante mais de 48 horas os jornalistas Iussufo Queta, correspondente da Radiodifusão Portuguesa (RDP) e apresentador do principal noticiário da televisão pública, e Paula Mela, então coordenadora das emissões da televisão, na sequência da divulgação no "telejornal" de um comunicado do dirigente da oposição Fernando Gomes, em que este fazia acusações de carácter político e pessoal a Caetano Intchamá. Fernando Gomes esteve também detido nessa ocasião.

Crónica de Orlando Castro, publicada inicialmente no Notícias Lusófonas

Críticas crescentes atingem diplomata angolana nos EUA

O comportamento (politico e diplomaticamente incorrecto) de Josefina Pitra Diakite está a pôr em causa a imagem de Angola nos EUA. A delegada de João Miranda nas terras do "tio Sam" é acusada de governar a Embaixada a trouxe-mouxe, levantar os ombros, fazer um muxoxo e de virar a cara à oportunidade que tem de aprender com os americanos como tratam os seus cidadãos no estrangeiros.
Por essas, outras e tantas, os angolanos ameaçaram rasgar e queimar a bandeira da República de Angola, o que revela que a paciência política dos angolanos que habitam naquelas paragens em relação à dona Josefina atingiu o zero.
A comunidade angolana nos Estados Unidos da América (EUA) quer ver a actual embaixadora de Angola no país mais poderoso do mundo pelas costas. Motivo: tratamento pouco urbano e indelicadeza de Josefina Pitra Diakité em relação aos cidadãos nacionais que, por motivos vários, habitam naquelas paragens.
A provar que está farta de olhar para a cara da actual embaixadora de Angola nos EUA, de invocar o seu nome, e de suportar os seus inexplicáveis e intragáveis caprichos, a comunidade angolana na Filadélfia manifestou recentemente o desejo de queimar a bandeira do País em retaliação maus tratos de Josefina Pitra Diakité em relação aos angolanos.
Por isso, a comunidade angolana alerta ao presidente da República, José Eduardo dos Santos, a substituir a actual representante diplomática de Angola nos EUA, que é também acusada de destratar funcionários da Embaixada angolana.
As relações entre a Embaixada e o Consulado de Angola nos EUA não são das melhores. A provar isso está o facto de Josefina Pitra Diakité ter influenciado Luanda a exoneração do então cônsul de Angola em Houston e de Joaquim Benje.
A chefe da missão diplomática angolana nos EUA é acusada de ter cancelado indevidamente a guia de regresso de uma diplomata exonerada recentemente por conveniência de serviço pelo Ministério das Relações Exteriores (MIREX), recusando-se a dar-lhe os 10% que lhe são descontados durante o exercício das suas funções durante a missão diplomática.
A embaixadora de Angola nos EUA é acusada de estar a dar cobertura à sobre facturação que o seu marido, de nacionalidade maliana, tem estado a beneficiar com as obras a seu cargo na residência oficial.
Josefina Pitra Diakité disse, por exemplo, numa reunião com os funcionários da Embaixada de Angola nos EUA que "a única pessoa que tem direito a viatura e motorista sou eu e mais ninguém". Os demais diplomatas e funcionários da missão diplomática angolana nos EUA deslocam-se a pé, táxi, comboio, metro ou ainda de boleia.
Recorde-se que sobre Josefina Pitra Diakité (membro do Comité Central do MPLA) impende a suspeita de se ter acaparado de dinheiros da Embaixada de Angola Suécia, o que obrigou ao encerramento da chancelaria e os diplomatas a trabalharem nas suas residências.
Entretanto, todos os esforços feitos, via correio electrónico, para contactar o assessor de Imprensa da embaixadora de Angola nos EUA, Gilberto das Neves, não foram bem sucedidos por não termos obtido nenhuma resposta até ao presente momento.

Este artigo fou publicado inicialmente no Notícias Lusófonas

Será que a Polícia está a arrumar a casa?

Carmo Neto, porta-voz da Polícia Nacional, veio a público dar conta que os agentes que arrancaram as unhas com alicate aos homens que trabalhavam como seguranças para a Maboque foram expulsos da corporção.
Foram expulsos da corporação não só estes, mas também outros que, sem apelo nem agravo, maltrataram e tentaram extorquir outros cidadãos que, para além da AJPD, não têm instituição nenhuma que os possa mais defender.
Contudo, é preciso dizer que não basta expulsar quatro, cinco ou dez agentes da corporção. É preciso, isto sim, começar-se a ser mais selecto no que respeita ao recrutamento de pessoas para integrarem o efectivo da Polícia Nacional.
É preciso que os presos nas cadeias de Luanda e de outros pontos do País deixem de ser sodomizados e torturados com choques eléctricos.
É preciso, isto sim, que os agentes da polícia tenham outros métodos para lidar com os cidadãos que não a força e a aplicação do manual de tortura física e psicológica do passado.
É preciso, isto sim, que a polícia inculque em si o principio de investigar primeiro e prender depois e não o inverso como se tem verificado até ao presente momento.
É preciso, sim senhor, que nesta altura do campeonato a DNIC passe à tutela do Ministério da Justiça e não do Interior.
É preciso, isto sim, que a policia deixe de se servir delinquentes quando é para "limpar o sebo" a políticos da oposição e montar armadilhas a Jornalistas que não sejam de órgãos públicos.
Vamos esperar, pois, que o nóvel ministro do Interior arrume a casa!

quarta-feira, junho 14, 2006

Direitos Humanos? Só para uns quantos...

"Quando eram zero horas chegou a minha vez. Chamaram-me e eu saí. Amarraram-me de novo no porta-bagagem com um pano na cara. Não sabia onde ia. Um tempo depois dei conta que estava naquelas barrocas do Roque Santeiro, naqueles buracos, lá no fundo.Depois de me desamarrarem a cara diziam: agora vais morrer. Aqui tens que dizer onde está o cofre. E eu dizia sempre: se tivesse o cofre iria entregar. Não conheço nem sei qual é o tamanho do cofre, nem tenho acesso para saber onde ficava este cofre. Manipularam as armas AKM e pistolas. Puseram bala na câmara e mostraram-me, veja está a entrar. Eu eu disse: se quiserem matem-me, mas um dia, mesmo que for daqui a 20 anos, o dono vai saber que morri. Mas não roubei o dinheiro dele".
Estas são declarações à VOA de um dos homens que foi acusado e arbitrariamente detido (surrado, escalavrado, humilhado) por agentes da Polícia Nacional de ter roubado um cofre com USD 150 mil que se encontravam na sede da Maboque em Luanda.
Os agentes da Polícia Nacional, para além de o terem, a ele e mais três colegas, pontapeado que nem um cão tinhoso, arrancaram-lhe as unhas com alicate.
Será que isso dá para dar uma ideia do actual grau de respeitabilidade de Direitos Humanos pelo Governo angolano?
Ainda assim Hina Jilani, representante especial do secretário-geral das ONU para os Direitos Humanos, quando visitou (uma visita guiada, sublinhe-se) Luanda e algumas províncias disse "estar satisfeita com a situação de Direitos Humanos em Angola".
Pudera!Quem é que não ficaria satisfeito com cama e comida toda paga pelo Governo angolano? Qualquer um ficaria, ademais se o seu País de origem fosse o Paquistão!
Quem é que não ficaria satisfeito com a hospedagem toda paga num hotel de cinco estrelas toda paga pelo Governo? Qualquer um ficaria !
Mas penso mesmo é que Hina Jilani deverá ter é ficado satisfeita com os almoços ( será que a ONU não tem dinheiro?) que teve nos restaurantes do Hotel Trópico em Luanda, o que não lhe permtiu ver e ouvir situações como a que acabamos de descrever.
Não admira que, na sua despedida, tenha levado algumas pdras brilhantes para dizer a Kofi Annan que em termos de Dieritos Humanos em Angola, está-se bem!

A prova de vida de Kalandula

Kalandula é hoje um homem com 52 anos de idade, quatro mulheres, 12 filhos, 25 netos e, nos últimos tempos, bisnetos. Vive em Viana, Norte de Luanda, numa casa de adobe com quintal vasto, cujo quintal tem uma vasta figueira.

Cada mulher tem o seu quarto e cada uma tem a sua vez de cozinhar para Kalandula que a segunda-feira dorme com uma, terça-feira com outra e assim sucessivamente. E assim, o homem, vai projectado o melhor, esperando o pior e aceitando de ânimo igual o que Deus quer.

Os filhos, estes, já estão despachados. Espalharam-se todos por Luanda, a grande cidade. Juntam-se debaixo da figueira do quintal de Kalandula quando há pedidos de noivado ou problemas que reclamem a presença do pai.

Kalandula chegou a Luanda ido de Malange, sua terra natal, antes da refrega eleitoral de 1992.
Kalandula anda com esferográficas no bolso da camisa, mas não sabe escrever. Anda com livros debaixo do sovaco, mas não sabe ler. Mas em contrapartida tem uma sabedoria de se lhe tirar o chapéu aprendida ao longo dos tempos, lá na sua terra, debaixo do embondeiro em companhia dos mais velhos do seu quimbo que enquanto contavam as suas estórias não punham de parte uma garrafa de caxi, uma espécie de whisky caseiro feito à base de milho ou ainda de banana.

Quando Kalandula chegou à grande cidade não sabia bem o que fazer. Não tinha profissão que lhe pudesse ser útil na cidade naquela altura. Ou seja, a enxada e a catana de nada lhe serviam em Luanda. Mas ficar de braços cruzados não podia. Alguma coisa tinha de fazer para sustentar a família.

Depois de muito pensar, arranjou emprego numa firma como estivador. Ele era destemido e muito apreciado pelos colegas. Muitas vezes falava de coisas que não percebia e punha os colegas a rir, mas a bom rir mesmo. Não fumava e nem bebia. Estava sempre pronto para responder às chamadas dos chefes, bem como executar as tarefas que lhe eram incumbidas.

Um dia, de manhã manhãzinha, chegada ao serviço, o chefe mandou-lhe comprar uma Coca-cola e uma sandes no mercado mais próximo e deu-lhe uma nota de mil kwanzas. Kalandula recebeu o dinheiro e foi comprar o que lhe tinham mandado, não só para o chefe mas também para ele.

Quando chegou a empresa entregou ao chefe a Coca-cola e a sandes. Ia a retirar-se quando o chefe perguntou-lhe:

- O troco?

Kalandula respondeu:

- É só o chefe que come?

O chefe de Kalandula ficou boquiaberto, sem saber o que dizer diante da resposta. Porém, deu um desconto por saber que Kalandula era sem maneira, não respeitava nada nem ninguém que não fosse seu familiar.

À semelhança da história de que o malangino não gosta de pagar renda, vezes havia a que a Kalandula não apetece trabalhar.
Certo dia, Kalandula chegou mal disposto ao serviço e disse que não queria trabalhar. O chefe chegou ao lado dele e disse:

- Não quer trabalhar, está mal disposto vai para casa!

Kalandula não tugiu nem mugiu. Mostrou-se indiferente. E coisa esteve neste ritmo durante quarenta e cinco dias. O sector dos recursos humanos mandou-lhe uma cartinha a dar conta do risco que ele corria de ser despedido. Até que um dia o patrão despediu-lhe mesmo.

E ele disse ao chefe:

- Aqui ninguém me despede. Eu que sei se continuo aqui ou vou-me embora!

O chefe não ligou. Passou-se a primeira semana, a segunda e a terceira e Kalandula continuava a fazer-se presente na presença sem no entanto querer vergar a mola. Farto da situação, um dia o chefe chegou ao lado de Kalandula e determinou:

- Não lhe quero ver mais no recinto da empresa. Segurança, ponha este homem fora!

Kalandula disse:

-Ai é? O senhor esqueceu-se que sou malangino? Só um minuto, vou à casa de banho.

Kalandula foi à casa de banho como se fosse fazer necessidades. Enquanto o chefe dava outras orientações, Kalandula foi de forma sorrateira para o gabinete dele e pôs-se todo nu.

Meia hora depois, o chefe e o seu adjunto estavam de regresso ao gabinete aonde encontraram Kalandula nu em piloto, de pernas cruzadas e a assobiar.

Quando o seu chefe e o seu adjunto entraram apanharam um susto e perguntaram:

- Mas o que é que se passa aqui, Kalandula?! Estás a ficar maluco ou quê?

Kalandula parou de assobiar mas mantendo as pernas cruzadas respondeu:

- O chefe não me despediu? Agora estou aqui para saber se o chefe terá capacidade de sustentar as minhas quatro mulheres, os meus 12 filhos e os meus 25 netos, sem falar dos meus bisnetos.

- Kalandula, pelo amor de Deus! Vista-se e vai-se embora.

-Não, não me visto nem saio daqui do seu gabinete se não me garantir que estou novamente empregado. Aliás, o senhor tem quarenta minutos para me dar uma resposta fim dos quais um dos seus filhos poderá morrer de febre logo a noite. Só se eu não nasci em Malange e lá não há feitiço forte!

O chefe disse, não sem antes ligar para casa para saber dos filhos, a transpirar em tempo de cacimbo:

- Pronto, Kalandula! Estás empregado novamente. Vamos voltar a ser amigos, ok?

Kalandula vestiu-se calmamente, apertou a mão do chefe e do seu adjunto e saiu a cantarolar do gabinete do chefe:- Ku Malange, ku malangéééee, nguiame!

E disse para si mesmo:

-Nós de Malange somos vivos, até os patrões conseguimos dobrar.

Cultura do medo é inimiga da paz

Era suposto, possível e desejável que, depois do 22 de Fevereiro de 2002, se começasse a trabalhar no sentido de combater, mediante à fala, a cultura do medo que reina há cerca de 30 anos no País.
Era suposto, possível e desejável que, depois do 22 de Fevereiro de 2002, se fossem os chacais (que ainda trabalham (?) para a (in)justiça angolana) e dessem lugar aos tribunais para julgar o bom e o mau ratoneiro, o bom e mau algoz.
Contudo, os homens que tem os maiores privilégios e que pertencem à "fina-flor" política partidária afecta ao Menos Pão Luz e Água pensam, por sua conta e risco e desrespeito ao povo, de forma diferente declarando guerra contra os pobres, e não contra a pobreza, arrancando unhas a sangue e frio com alicates.
Isso é feito a quem tem a ousadia de atentar contra os bens e interesses do poder. E quem tem a missão de arrancar as unhas não são delinquentes, mas agentes da Polícia Nacional pagos por um grupo empresarial que tem o nome de um fruto silvestre angolano.
E ainda por cima vem a representante especial do SG da ONU para a defesa dos
Direitos Humanos, Hina Jilani, dizer que está satisfeita com a situação dos
Direitos Humanos em Angola. Hina Jilani deverá é ter ficado satisfeita com os almoços e jantares
oferecidos pelo Governo angolano, bem como as visitas guiadas feitas por algumas províncias do País. Isto se não levou algumas pedras brilhantes na bagagem ao regressar.

terça-feira, junho 13, 2006

Cabinda: Vinte e oito detidos durante a tomada de posse de Dom Filomeno Viera Dias

Dezasseis meses após a sua conturbada nomeação como bispo de Cabinda, Filomeno Vieira Dias tomou posse, sábado, 10, na capital do enclave, num ambiente considerado pelas autoridades «calmo» e «sem incidentes», embora no mesmo dia tenham sido detidos arbitrariamente 28 activistas dos direitos humanos.
Nomeado bispo de Cabinda a 11 de Fevereiro de 2005, Filomeno Vieira Dias «tomou posse» no sábado, dia 10 de Junho, na Sé Catedral, num ambiente de «calma» e «sem incidentes». Todas as previsões apontavam para uma investidura de «elevado risco» e, consequentemente, demasiado mediatizada, o que levou «o regime a disponibilizar meios de repressão visíveis, embora muitos deles disfarçados como civis».
Após 16 meses de silêncio, quase absoluto, referente aos incessantes protestos contra a sua nomeação, Filomeno Vieira Dias desembarcou na passada sexta-feira, no Aeroporto João Paulo II, em Cabinda, perante uma improvisada recepção, sem euforias, onde se destacavam as principais individualidades político-militares do enclave, além do presidente da Mpalabanda - Associação Cívica de Cabinda (MACC), Agostinho Chicaia, que pretendeu assim dissipar rumores que circulavam em como a MACC pretendia «provocar distúrbios durante o evento».
Acusações «absolutamente infundadas», como declarou o presidente da Mpalabanda ao Ibinda.com.
Depois de uma pequena manifestação de boas-vindas protagonizada por algumas crianças do Orfanato Betânia, as cerimónias prosseguiram sem incidentes. Sábado, dia 10 de Junho, foi oficializada, na Sé Catedral, a «contestada investidura» num ambiente calmo e também «sem incidentes», tal como assinalaram as autoridades angolanas.
Com um forte dispositivo policial em torno da Sé, e além da presença de altas autoridades militares, foi notória a fraca adesão popular assim como a ausência quase total dos padres de Cabinda e das individualidades locais, com excepção de Paulino Madeca e dos cinco padres da denominada «ala legalista», revelando a forte tensão e «contestação silenciosa» reinante durante este evento, que resultou na interdição, pelas forças policiais, do padre José Mampumbo assistir às cerimónias.
A ausência mais notória foi da maioria dos padres locais, considerados como «contestatários», que justificaram a sua «não comparência» com o facto de «não terem sido convidados». Os poucos que, à última hora, receberam os convites, declinaram, explicando que, por decisão da Cúria Romana, estavam impedidos de participar em qualquer celebração eucarística pública, podendo fazê-lo apenas em privado, afirmou fonte ao Ibinda.com.
«Nós vamos conversar, vamos dialogar, vamos nos encontrar e eu estou muito esperançoso», declarou Filomeno Vieira Dias à antena da Rádio Renascença pouco antes da sua partida para Cabinda, levantando o véu da contestação local à sua nomeação. «Eu tenho o dossier Cabinda presente e acredito que estando lá, vamos aprofundar este diálogo de forma positiva, de forma corajosa», acrescentou.
No entanto, menos de três horas após as celebrações da sua «investidura» na Sé Catedral, 28 activistas dos direitos humanos, membros da Mpalabanda que se preparavam para uma reunião no salão da Igreja Imaculada Conceição com objectivo de definirem o «estabelecimento de boas relações com a Igreja e o actual bispo», tal como confirmou Agostinho Chicaia ao Ibinda.com, foram imediatamente cercados e detidos por agentes da polícia, sem que tenha sido «formulada qualquer acusação» contra os mesmos.
Foram apenas alegadas «medidas preventivas de segurança», declarou o presidente da Mpalabanda após ter sido submetido a um interrogatório nas instalações da Polícia de Investigação Criminal.
Agostinho Chicaia afirmou também que foi a primeira vez que viu as autoridades policiais e militares angolanas «preocupadas com uma detenção» sobre a qual «não sabem justificar os seus motivos concretos». Os mesmos terão manifestado «inquietude» por terem provocado um «incidente» durante as cerimónias da investidura do novo bispo que se pretendia «sem incidentes».
O Ibinda.com pôde apurar às 18h00 locais de domingo, 11 de Junho, os 28 activistas dos direitos humanos foram libertados após «a polícia e os militares», em consonância com o Governo Provincial, terem exigido a Agostinho Chicaia, como condição para a libertação, que este assinasse um documento onde se comprometia, em nome da associação, a não utilizar «recintos da Igreja Católica» para as reuniões da Mpalabanda. Os referidos activistas foram igualmente obrigados a «rubricar» o mesmo documento.

Fonte: O Apostolado

A glória do autor de "Luuuanda" no Prémio Camões

Luandino Vieira, hoje com 71 anos, acaba de ser galardoado com o “Prémio Camões”. Nada mais justo. Nada mais lógico. De facto, o Prémio, que é o mais importante galardão literário da lusofonia, foi criado, em 1988, para distinguir um escritor cuja obra contribua para o enriquecimento cultural e literário em Português.
Luandino Vieira é um dos criadores da ficção angolana, não deixando de ser um notável escritor lusófono, no que o termo tem de “globalizante”. O homem-escritor pensa como se no musseque estivesse, usando e abusando, no melhor sentido do termo, da língua mesclada de Português e Quimbundo, que se fala no subúrbio das grandes cidades. A africanidade lusíada tem nele um dos maiores expoentes. E tem História... se deixarem a História ter memória.
Corria o ano de 1965. Na (então) Emissora Oficial de Angola, a notícia caiu como uma bomba. É que a Sociedade Portuguesa de Escritores atribuira o prémio de Novela ao livro “Luuuanda” de Luandino Vieira.
Dois ou três jornalistas da “geração de ouro do Jornalismo angolano” ficaram mais do que eufóricos. É que o “Luuuanda” de então dava a conhecer uma corrente – não apenas literária, desenganem-se os que pensam assim... – que era seguida, em pensamento só, claro, por muitos do que, na altura, pensavam. E que seguiam, talvez, o pensamento de um Aníbal de Melo, que já andava nas matas, ou de um Machado Saldanha que acabara por fundar um Jornal que ia na mesma calha, embora muito mais “português” do que “angolano”.
Dois dos jornalistas que saudaram – a medo, que os tempos não eram para heroismos, como dizia o grande Aníbal de Melo – a obra premiada e a coragem dos que apontaram o nome de Luandino Vieira, tiveram de ser os “instrumentos” da luta que o governo de então desde logo abriu contra o escritor e contra a Sociedade Portuguesa dos Escritores.
Tem destas coisas os imponderáveis de uma profissão-missão que é mais um “modo de morte” que um “modo de vida”. Pela voz de Rui Romano, que já lá vai, receberam indicações de que, todos os dias, teriam de fazer uma nota a “repudiar” a atribuição do Prémio. Ele não concordava (nós sabíamos) mas a ordem vinha de cima. E naquela altura quem não tivesse coragem para se auto-imolar, teria de cumprir.
José Nunes Pereira e quem estas linhas traça eram os encarregados do tal “repúdio”. Que foram cumprindo em sucessivas notas do dia da então “Maçadora” Oficial, que só viria a mudar com a clarividência de um senhor, Oliveira Pires, que haveria de ser saneado pelos “todo poderosos” senhores que pegaram nas rédeas de Portugal depois do 25 de Abril. Mas... naquela altura só havia pigmeus a mandar nos destinos da Rádio Oficial.
O “repúdio” ficou então entregue aos dois novatos Jornalistas. Que acharam que deveriam dividir, entre si, o sacrifício. “Hoje... repudias-te tu”, diziam de si para si. “Não... não... repudia-te tu, que eu paguei ontem o café”, insistiam. O Zé Nunes Pereira lembra-se, decerto. E a mim nunca me esqueceu. Nunca me esquecerá e já contei aos meus.
“Luuuanda” haveria de ser editado apenas em 70. Depois... foi apreendido. Como era hábito. O escritor... escolheu o caminho da coragem. E foi enviado para o Tarrafal onde esteve 11 anos. Se juntarmos ao tempo em que esteve preso, em Luanda... hemos de concordar que a sua “coragem” foi bem “temperada”.
Lembrar isto, hoje e aqui, não é mais do que dar um abraço longínquo ao velho Luandino, agora a viver em Portugal, ainda que mergulhando todas as suas raízes na Angola que ambos amamos. Ele e muitos outros da “geração de ouro” dos Jornalistas e Escritores daquele País que não há maneira de encontrarem a paz do futuro, nem que seja numa campa rasa, algures, na terra querida que teimam em nos negar.
Com “Luuuanda”, e com o Prémio da Sociedade Portuguesa de Escritores, Luandino Vieira teve a tortura e a prisão. Com o Prémio Camões... um cheque de 100 mil euros e a consagração. Honestamente, muito honestamente, não sei – teimo em não saber – qual o “prémio” que mais alegria deu ao escritor. Por mim e pelo meu irmão Nunes Pereira – que não vejo há montes de anos... – sei bem qual foi o “melhor”. Mas... não digo! Adivinhe o leitor.

Crónica do Jornalista F.Cruz Gome publicada inicialmente no único jornal do mundo virado para a Lusófonia, Notícias Lusófonas